Juíza explica por que suspeito de deixar corpo na rodoviária de Porto Alegre saiu da prisão em 2024
- 11/09/2025
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O publicitário Ricardo Jardim, de 66 anos, suspeito de deixar uma mala com parte do corpo de uma mulher na rodoviária de Porto Alegre, foi condenado, em 2018, a 28 anos de reclusão por matar e concretar a própria mãe. Após a sentença, no entanto, ele recebeu progressão de pena ao regime semiaberto, em 2024. Quando foi preso, no último dia 4 de setembro, estava foragido desde abril.
A ordem de enviar Jardim ao regime semiaberto foi da 2ª Vara de Execuções Criminais (VEC) da Capital. Na época, a juíza Sonali da Cruz Zluhan, estava à frente da VEC. Em entrevista nesta quarta-feira, a magistrada falou sobre a decisão.
“Não existe lei no Brasil que determine prisão em regime integral fechado. Por isso, independente do delito, sempre vai chegar um momento em que o apenado vai progredir de regime. Não há o que fazer em relação a isso”, disse a juíza.
De acordo com Sonali da Cruz Zluhan, após o cumprimento da pena, Jardim teve recomendações favoráveis da Polícia Penal em relação ao seu comportamento no sistema penitenciário. Os laudos psiquiátricos também embasaram a concessão do benefício.
“A gravidade do crime foi levada em conta na condenação, em 2018. Nessa época, o que eu deveria fazer era fiscalizar a pena. Acontece que o preso tinha laudos favoráveis, ou seja, não havia justificativa para ficar recluso. O critério objetivo da lei é o tempo de cumprimento da pena, mas o critério subjetivo são os laudos psicossociais, que eram favoráveis. Ele era um preso trabalhador, sem nenhum processo disciplinar. Não teria como imaginar o que poderia ocorrer depois. O Judiciário tem obrigações pré-determinadas. Não são os juízes que fazem as leis”, explicou a magistrada.
Jardim foi transferido à Penitenciária Estadual de Charqueadas II, nesse domingo, após ficar por três dias no Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp), onde passou por audiência de custódia. Ele permanece isolado em uma cela na ala de triagem da unidade.
Condenação por morte de mãe
Jardim foi condenado, em 2018, a 28 anos de reclusão por matar e concretar a própria mãe, em 2015, no bairro Mont’Serrat. Conforme o Ministério Público, a motivação desse crime foi, também, econômica.
“A vítima usufruía do seguro de vida do falecido marido, no valor de R$ 400 mil, do qual o filho se apossou após o crime. Ela foi morta com 13 facadas nas costas”, destacou o MP, na época dos fatos.
No julgamento, o réu confessou que ocultou o cadáver, mas negou a morte. Segundo ele, a mãe se suicidou. Jardim foi considerado culpado por três crimes: homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e meio cruel), ocultação de cadáver e posse de arma. Ele recebeu progressão de pena ao regime semiaberto em 2024. No ano seguinte, fugiu.
Quem é a vítima
Brasilia Costa, de 65 anos, trabalhava como manicure e cabeleireira. Ela era natural de Arroio Grande, no Sul do Estado. O irmão dela é sargento da Brigada Militar, da reserva.
A mulher era vizinha do criminoso, que residia em uma pousada no bairro São Geraldo. Os dois mantinham relacionamento amoroso há seis meses.
Segundo a investigação, após o crime, o homem utilizou o celular da namorada para mandar mensagens aos parentes dela e fingia ser a mulher. Por isso, o desaparecimento não foi registrado.
Motivação financeira
O delegado interino da 2ª DHPP, André Freitas, afirmou que o preso estava foragido desde abril do ano passado. Nesse intervalo de tempo, era sustentado com a ajuda da namorada, apesar de ter formação como publicitário. A suspeita é que o crime tenha sido cometido por motivação financeira.
“Acreditamos que o criminoso agiu com motivações financeiras. Ele estava foragido, ou seja, em uma situação complicada para ganhar dinheiro. Sabemos que a mulher fez transferência de valores ao companheiro durante todo o relacionamento. Além disso, depois do crime, o homem ainda realizou saques bancários com os cartões da vítima”, destacou Freitas.
Filmado na rodoviária
De acordo com a investigação, após deixar o corpo na rodoviária, onde foi gravado por câmeras de segurança, o criminoso se mudou para outra pousada, no bairro São João. Acabou sendo preso ali, no dia 4 de setembro.
“Foi o crime mais difícil que já investiguei. Analisamos mais de 34 câmeras de segurança até rastrear o suspeito. Ele se expôs de propósito ao ir na rodoviária. Além disso, fez denúncias falsas. Tudo para afrontar as autoridades”, disse o diretor do Departamento de Homicídios (DHPP), delegado Mario Souza.
Ocorre que, em determinado momento, o criminoso adquiriu bebidas alcoólicas em um comércio. Ali, ele tirou a máscara e teve o rosto captado por uma câmera de monitoramento.
“Tínhamos o rosto dele, mas não sabíamos a identidade. O nome foi confirmado por pessoas que o conheciam na pousada”, destacou Souza.
FONTE: Correio do Povo






















