Preço em queda, dívidas em alta: produtores pedem securitização e comentam medida do Banrisul
- 20/06/2025
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Em reunião extraordinária realizada nesta quinta-feira (19/6), a diretoria do Banrisul decidiu suspender, por 90 dias, a negativação de todos os produtores com crédito rural ativo no banco. A medida visa oferecer um alívio temporário aos agricultores do Rio Grande do Sul, especialmente os afetados pelas estiagens e enchentes dos últimos anos.
A decisão foi confirmada pelo governador Eduardo Leite, que a classificou como uma “ótima notícia para os homens e mulheres do campo”. O presidente do Banrisul, Fernando Lemos, afirmou que o objetivo é “auxiliar e preservar esse importante setor econômico do Estado”.
No entanto, a reação entre os produtores foi de insatisfação e preocupação. Para muitos, a suspensão temporária não representa solução real frente à gravidade da crise.
“Isso aí pra mim é até uma brincadeira”, desabafou o produtor Luís Kessler. “Claro que ajuda pra não deixar o CPF trancado, mas é insuficiente. Precisamos de uma solução real, como a securitização das dívidas, que já estamos apelando há anos”. Ele também destacou a queda no preço do leite — que historicamente subia no inverno — e denunciou os impactos da importação de produtos como leite e queijo da Argentina.
Kessler também lembrou das dificuldades de pequenos produtores que dependem exclusivamente da pecuária leiteira. “O pequeno vive do leite. Se o preço não paga os custos, ele quebra e vai para a cidade. Aí vai viver de quê?”, questiona.
O produtor Maurício também foi direto: “Suspender por 90 dias não adianta nada. O produtor vem sofrendo faz quatro anos. Esse pequeno prazo não vai resolver um problema que já se arrasta”.
Já o produtor Giovane Rozin reforçou o coro de insatisfação, acrescentando que a medida apenas ameniza a situação temporariamente. “Isso ameniza por um tempo, mas não resolve. Tivemos estiagens, agora essa chuva, o preço das culturas despencou. O soja estava a R$180 e agora está R$118, o trigo caiu de R$100 para R$70, e o milho de R$100 para R$60. O resultado é desesperador”, relatou.
Segundo Rozin, nos últimos três anos ele acumulou um prejuízo de cerca de R$ 1,5 milhão. “Estamos atrás da securitização, isso sim resolveria, nos dando prazo e juros justos. Só que tem bancos que estão executando dívidas sem perdão, mesmo diante das perdas.”
Ele ainda denunciou a diferença no tratamento entre instituições financeiras. “O único banco que aceitou prorrogação amigável foi o Banco do Brasil. Fizemos tudo com laudo agronômico, dentro da lei. Já os outros bancos não aceitaram e só pensam em executar.” Rozin precisou recorrer à Justiça para obter prorrogação, citando o direito constitucional à proteção da produção de alimentos.
Na segunda-feira, Rozin esteve em Porto Alegre ao lado do prefeito de Chiapetta e de outras lideranças em um grande manifesto com mais de 300 prefeitos na sede da Famurs. “Entregamos um documento ao governador Eduardo Leite, ao senador Luiz Carlos Heinze e demais parlamentares. A expectativa é de que seja levado ao presidente Lula. Se não vier nenhuma solução, vamos a Brasília, porque é de lá que esperamos a securitização”, afirmou.
Enquanto o setor rural gaúcho aguarda novas medidas por parte da União, o sentimento predominante é de apreensão. A mobilização segue intensa por parte de produtores e lideranças, que veem na securitização uma das únicas saídas viáveis para evitar o colapso da atividade agropecuária no estado.